por Edson Formosino 6º Dan Karatê Shotokan – Ceebk
O karatê como esporte evolui de forma gigantesca, se olhar que a modalidade a cada dia aumenta o número de praticantes em todo planeta sendo hoje considerada uma das artes marciais mais praticadas.
Vemos também que esse grande sucesso também trouxe um lado negativo.
Se formos olhar pela óptica da dimensão e da divulgação da arte, esse lado é muito importante e benéfico, porém, se formos olhar o lado marcial do karatê (karatê budô) verá que a coisa não está tão assim benéfica como parece.
Vamos dar um exemplo: muitos dojos hoje têm professores que por gostarem mais do lado competitivo do karatê fazem suas aulas serem verdadeiros replicas das competições enfatizando somente a prática das técnicas permitidas nas competições e deixam de treinar aquelas técnicas que nas competições são proibidas, mas que na defesa pessoal e no karatê marcial fazem parte e são muito efetivas. O exemplo: cotoveladas, cabeçada, joelhadas, golpes com a mão aberta, chute com salto e giros.
Sabemos que esses golpes na competição são proibidos devido ao risco que podem causar, justamente porque esses golpes são considerados golpes devastadores e que hoje muitas academias deixam de repassar e treinar esses movimentos devido à ênfase competitiva que dá mais retorno aos envolvidos, pois, quando um atleta sobe ao pódio ele recebe sua medalha ou troféu, mas a academia que o esta inscrevendo ganha o retorno do marketing com a sua vitória e muitos hoje são mais garotos propagandas de academias do que propriamente atletas de karatê.
Nós não somos contra o lado competitivo da arte, mas temos nossas ressalvas como esta sendo feito a transmissão técnica.
Se essa forma de transmissão continuar, daqui a alguns anos muitos nem conhecerão alguns golpes quando observarem os mais antigos que tiveram esse aprendizado fazendo. Vou dar um exemplo próprio meu. Certo dia fui visitado por um faixa preta, que treina em outra associação, ficou assistindo minha aula e chegou a um pai de aluno e citou que eu era bom professor, mas estava treinando golpes que não eram do karatê e que estava misturando karatê com Kickboxing por ser mestre nessa arte também.
Ao terminar nossa aula o professor já havia ido embora, fui procurado pelo pai do aluno que me disse que ele havia feito o comentário acima e eu disse apenas assim: na próxima aula mostrarei ao Sr. que as técnicas que seu filho esta treinando não são de outra arte e sim do karatê. Na aula seguinte levei dois livros para a academia e mostrei ao pai dos meus alunos e mostrei as técnicas que havia feito na aula anterior. Ai disse assim: veja aqui esse livro é do mestre Nakayama 10º dan e esse livro é do mestre Kanazawa 10º dan eu não inventei nem misturei nada, apenas é o seguinte: aquele faixa preta só conhece os chutes usados nas competições e essas técnicas não são ensinadas por alguns professores e mestres porque não são permitidas. Ai o pai dos alunos ficou rindo e disse ele é mal informado e limitado.
Infelizmente esse é o medo que temos hoje com a ênfase tão grande que se dá a ganhar medalhas e títulos esportivos. Como já dissemos anteriormente não somos contra o lado esportivo da arte, mas isso deve ser feito de forma racional e criteriosa senão essas cenas citadas por mim se repetirão em mais locais a cada dia e a cada ano que for se passando. Aqueles professores sérios que primam pela essência verdadeira do karatê e que ainda mantêm um verdadeiro budô, ao ler esse artigo se conscientizarão da importância de treinar não somente aquilo que se usa nos torneios e disputas esportivas, mas tudo que for técnicas pertencentes a nossa arte. Para que no futuro golpes efetivos não sejam perdidos e esquecidos.
Devemos manter vivo aquilo que o mestre Funakoshi e muitos outros mestres tanto batalharam para difundir e que nós, professores, temos o dever de perpetuar as novas gerações e aos nossos filhos. Não os privando desse conhecimento que outrora tivemos o privilégio de aprender.
**artigo publicado por Edson Formosino, 11/07/2010.